terça-feira, 18 de agosto de 2009

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(…) Apesar deste fresco nome de vivenda campestre, o Ramalhete, sombrio casarão de paredes severas, com um renque de estreitas varandas de ferro no primeiro andar, e por cima uma tímida fila de janelinhas abrigadas à beira do telhado, tinha o aspecto tristonho de Residência Eclesiástica que competia a uma edificação do reinado da Sr.ª D. Maria I: com uma sineta e com uma cruz no topo assemelhar-se-ia a um Colégio de Jesuítas. O nome de Ramalhete provinha de certo dum revestimento quadrado de azulejos fazendo painel no lugar heráldico do Escudo d'Armas, que nunca chegara a ser colocado, e representando um grande ramo de girassóis atado por uma fita onde se distinguiam letras e números duma data.
Longos anos o Ramalhete permanecera desabitado, com teias d'aranha pelas grades dos postigos térreos, e cobrindo-se de tons de ruína. (…)
(…) o Ramalhete possuía apenas, ao fundo dum terraço de tijolo, um pobre quintal inculto, abandonado às ervas bravas, com um cipreste, um cedro, uma cascatazinha seca, um tanque entulhado, e uma estatua de mármore (…) enegrecendo a um canto na lenta humidade das ramagens silvestres. (…)

Eça de Queirós, in "Os Maias"

1 comentário:

E. Raposo disse...

Líndissimo!
Não só o excerto, mas a conjugação deste com as magnificas cores da fotografia.

Estiveste muito, mas muito bem.
Tens de me ensinar a captar essas cores.